09 março, 2014

Aspectos mais relevantes das contas consolidadas semestrais (2013/2014) da “F.C.P. - Futebol, S.A.D.”

http://bibo-porto-carago.blogspot.pt/

Depois de um prejuízo de 12,430 m€ no fim do 1º trimestre (1 de Julho a 30 de Setembro de 2013), e atendendo a que no 2º trimestre não se verificaram mais-valias com transacções de passes de jogadores, e sobretudo considerando a falhada passagem aos 8ºs de final da liga dos campeões e o correspondente prémio, mais do que previsível era garantido um resultado fortemente negativo no 1º semestre (1 de Julho a 31 de Dezembro de 2013) do exercício de 2013/14.

Pois bem, ele aí está: 29,239 m€ de prejuízo. Ou seja, o 2º trimestre encerrou com um prejuízo de 16,809 m€ que somado aos 12,430 m€ do primeiro trimestre dá os tais 29,239 m€ no final do semestre.

Aqui está o primeiro e enorme motivo de preocupação que as contas revelam: a absurda dependência da realização de mais-valias com transacções de passes de jogadores. Digo absurda porque uma coisa é estas mais-valias contribuírem com 10 ou 20% para o equilíbrio da conta de resultados, outra coisa totalmente distinta é quando esse equilíbrio depende em 50% (ou mais) dessas mais-valias. É um ponto que não me canso de salientar. Porque, enquanto não se alterar a actual estrutura de proveitos (e, já agora também a estrutura de custos), a SAD estará sempre a um pequeno passo do abismo. E os responsáveis sabem e estão conscientes disso mesmo, não estou a dar nenhuma novidade. É o chamado modelo de risco, só que há riscos e riscos… e por isso é que alguns não aguentam a pressão e saem (curiosamente, ou não, os administradores financeiros). Como eu os compreendo…

Portanto, estamos perante um relatório intercalar que dá pistas mas está longe de ser conclusivo porque se aguarda a realização das tais mais-valias. Enquanto Otamendi já saiu para contribuir para esse peditório, na fila de espera estão Mangala, Fernando, Jackson e outros para em Junho, mês dos santos populares, a SAD encher o mealheiro e pensar em renovar o “stock” dos chamados activos intangíveis (jogadores). Tem sido uma política de sucesso, note-se de grande sucesso desportivo que não de sucesso financeiro, resta saber até quando.

Posto isto, que para mim é o mais relevante das “contas”, e para quem não se deu ao trabalho de ler o R&C, aqui ficam outros aspectos que merecem atenção (deixando sempre a advertência para o carácter de sazonalidade que a actividade desportiva encerra – não esquecer que estamos a analisar um R&C semestral), e que de modo sintético passo a enumerar:
  1. Os resultados operacionais (isto é, proveitos operacionais menos custos operacionais, excluindo “passes” de jogadores) caíram 2.921 m€ relativamente ao período homólogo;

  2. Dentro dos proveitos operacionais (sem “passes”), com excepção das receitas das provas da UEFA que baixaram de 11.393 m€ para 6.318 m€, todas as outras receitas mais importantes subiram, o que não deixa de ser uma boa notícia: o “merchandising” aumentou de 1.740 m€ para 2.660 m€; a bilheteira aumentou de 3.327 m€ para 3.605 m€; os direitos de transmissão televisiva subiram de 5.659 m€ para 6.932 m€; a publicidade e sponsorização subiu de 6.694 m€ para 7.584 m€ e o “corporate hospitality” (camarotes de empresas) aumentou de 7.497 m€ para 7.584 m€;

  3. Resumindo, os proveitos operacionais no seu conjunto caíram apenas 1% fruto da grande quebra das receitas da UEFA;

  4. Pior estiveram os custos operacionais (também sem “passes”) que aumentaram 6%, fruto da subida dos “fornecimentos e serviços externos” de 18.904 m€ para 20.926 m€. Melhor, embora pelas piores razões (não contabilização de prémios a jogadores pela passagem da fase de grupos da liga dos campeões),estiveram os custos com o pessoal que diminuíram de 25.766 m€ para 24.676 m€ (apesar da integração pela 1ª vez dos custos salariais do Porto Canal);

  5. Considerando as rubricas relacionadas com “passes” de jogadores, destaque para as amortizações e perdas de imparidade que registaram um valor de 14.424 m€ o que representa um aumento de 1.819 m€, e espelha o aumento dos custos com as aquisições de jogadores;

  6. Os custos e perdas financeiras (basicamente juros suportados) agravaram-se em 733.131€ (6.522.822€ em 31/12/2013 contra 5.789.691€ em 31/12/2012) devido ao aumento dos empréstimos contraídos. Ou seja, a escalada dos juros pagos continua, e não se vê maneira disto parar;

  7. Quem viu na redução do passivo total em 7.473 m€ um aspecto interessante bem que se pode desenganar; sim, porque se essa descida se ficou a dever à diminuição dos valores a pagar a fornecedores (pelas compras de jogadores), o activo baixou muito mais (36.710 m€) devido à diminuição dos valores a receber de clientes (pelas vendas de jogadores) e ao valor em caixa, e daí que o capital próprio (diferença entre activo e passivo) que era positivo (7.628 m€ em 30/06/2013) passou a negativo em 21.609 m€ (em 31/12/2013);

  8. Deixo para o fim o aspecto mais relevante (para lá da necessidade de efectuar um elevado volume de mais-valias para se atingir um resultado positivo no fim do exercício): não obstante a diminuição do passivo total, a dívida financeira aumentou. E, pior ainda, aumentou a dívida financeira de curto prazo (inferior a um ano). Com efeito, considerando apenas os empréstimos bancários, esta dívida financeira de curto prazo que em 30/6/2013 era de 43,004 m€, em 31/12/2013 já atingia os 65,514 m€, ou seja no espaço de seis meses verifica-se um agravamento de 22,510 m€. Com consequências funestas, como é evidente, desde logo pelos juros pagos (ver ponto 6), juros que correspondem a uma taxa média anual dos empréstimos bancários de 7,51%, o que não deixa de ser uma taxa muito elevada, para além do perigo de se entrar numa espiral difícil de reverter, o que aliás tem vindo a acontecer nos últimos anos, nomeadamente como é o caso do sistemático fundo de maneio negativo (ou seja, passivo corrente superior ao activo corrente) pressionando fortemente a tesouraria, e levando à tal necessidade de empréstimos de curto prazo.
RESUMINDO:
    Positivo: bom comportamento, em período de crise, dos proveitos operacionais.
    Negativo: excessiva, pouco saudável e muito perigosa dependência da realização de mais-valias na transacção de “passes”; elevada dependência do crédito bancário para financiamento da actividade corrente, com grande impacto negativo nos resultados do exercício por via dos juros suportados.
CONCLUINDO:
    Gostava de deixar uma palavra de optimismo para o futuro financeiro do clube, contudo, face ao exposto, e que são factos e não meras opiniões, globalmente, não posso estar nada optimista. Muito bom seria se alguém me contrariasse e demonstrasse quanto errado eu estou (não vale comparar com os outros que estão ainda piores, não é por a situação do vizinho estar pior que a minha automaticamente melhora).
P.S. – Sobre a avaliação da gestão desportiva (igualmente parte integrante do R&C), e que como sempre digo é o objectivo primeiro, para já não quero pronunciar-me, abstenho-me, as contas fazem-se no fim da época, embora também nesta área os indicadores não sejam muito positivos.


nota: o blog BPc agradece ao JCHS a elaboração deste artigo.

4 comentários:

  1. Fico francamente preocupado ao ler este relatório, e infelizmente o que venho referindo aqui diversas vezes, confirma-se...a expressão GESTÃO DANOSA, aplica-se na integra ao 2013/2014... já o tinha percebido no ponto de vista desportivo, este relatório confirma a parte financeira...

    Dito isto, deixar 2 pequenas notas,a 1ª nota é que pela minha parte continuo a confiar em que geriu o clube nos ultimos 30 anos, para inverter estes numeros, a 2ª nota, é que mesmo confiando, CUMPRE NOS A TODOS NÓS ESTAR MOS ATENTOS A GESTÃO DESPORTIVA E FINANCEIRA, E TER UMA PARTICIPAÇÃO MUITO MAIS ATIVA A NIVEL DE ASSEMBLEIAS GERAIS.

    Aproveito ainda esta oportunidade para agradecer o fantastico serviço que representou para toda a familia portista, este post, visto de uma forma clara e simples, dá a conhecer a tantos leigos, no que diz respeito a materias financeiro/economicas, como eu por exemplo, um relatório importante,que provavelmente muitos de nós se olhasse mos para o relatorio oficial nú e crú, pouco perceberiamos...Pela minha parte, deixo o meu MUITO OBRIGADO, por este fantastico post ao serviço do PORTISMO.

    Eduardo

    Rio Tinto

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  2. Foreval (Alemanha)09 março, 2014

    Não acredito que o FC do Porto ganhe o campeonato este ano, não só pela grande diferença de pontos entre nós e os lampiões, como também pela "ajuda" de terceiros (entre os quais alguns árbitros) que querem satisfazer a vontade do Mexias e de
    associações envolvidas na mudança!
    Isto apesar de ter esperança em
    obter resultados que nos permitam conquistar títulos... e até o
    campeonato... no caso dos benfas
    abismarem.

    Quanto ao problema da despeza/receita que este artigo
    refere, podemos ainda colmatar a
    situação e daí angariar alguns
    benefícios monetários,
    dependendo de certos factores
    que passo a explicar:
    - Muitos de nós estamos convencidos que a época
    conturbada que atravessamos nos
    vai prejudicar...
    -por termos saído prematuramente
    da champiões, -pelo descalabro
    dos últimos jogos que
    comprometem o campeonato, -pelas
    fracas receitas registadas no Dragão, -pelo aumento inevitável das despezas, etc...
    Estas inverossímeis vicissitudes
    contribuiram e contribuem para
    "desvalorizar" alguns jogadores
    promissores, pela irregularidade
    com que jogam, erros crassos e
    baixas de forma...
    Não obstante, os denominados
    "craques" podem ser valorizados
    no decorrer do campeonato do
    mundo, tais como Mangala; Jackson; Defour; Fernando...
    e com isso obter resultados
    favoráveis e abrangentes; que permitam "contabilizar" as
    contas vigentes.

    Aguardamos confiantes...

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  3. Blue Boy muito obrigado pelos esclarecimentos deste relatório de contas um excelente trabalho feito por você !

    Gostaria de lhe perguntar e pode responder em futuras cronicas, se esta gestão é tão perigosa por causa da dependência de efetuar mais valias com os passes dos jogadores, quais são as outras opções que a Sad tem para ir buscar receitas que deixem o clube tao dependente de vender de fazer muitos milhões em vendas correndo o risco de algum ano falhar nesse aspeto! Bom Trabalho e que o FCP logo vença categoricamente !

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  4. como as pessoas se acreditam que o “corporate hospitality” (camarotes de empresas) tem proveitos de 7.584 m€? mais do que a receita de bilheteira, a publicidade e até os direitos desportivos

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